Nome da fibra
- fibra de milho solúvel, maltodextrina, maltodextrina resistente
Fonte
Milho
Contexto
A fibra de milho solúvel está disponível no mercado dos Estados Unidos desde 2007 e é usada em preparações alimentícias e bebidas nas Américas, Europa e Sudeste Asiático. A fibra de milho solúvel é produzida através da hidrólise enzimática do amido de milho. Possui baixa viscosidade, é solúvel na água, oferece boa estabilidade térmica, sendo igualmente muito estável às tensões de PH e de processamento. A fibra de milho solúvel ajuda a satisfazer as necessidades de um nível de açúcar inferior e de um nível de fibras superior num ingrediente que pode ser usado para criar produtos alimentares embalados com um teor de açúcar inferior, oferecendo simultaneamente uma boa fonte de fibra alimentar.
Propriedades nutricionais
Estudos com animais, in vitro e no ser humano demonstraram que a fibra de milho solúvel resiste à digestão no intestino delgado, passando para o intestino grosso onde é fermentada. A fibra de milho solúvel contém uma mistura de ligações α 1-6, α 1-4, α 1-2, e α 1-3 glicosídeas que contribui para a sua baixa digestibilidade. As alterações nos ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) fecais reduziram o pH intestinal e aumentaram o hidrogénio expirado, indicando a sua fermentação no intestino.
É do conhecimento geral que um aumento súbito da fibra alimentar pode causar distúrbios gastrointestinais leves, mas são geralmente temporários e melhoram com a adaptação à fonte de fibra alimentar. A fibra de milho solúvel é bem tolerada em doses diversas. Os ensaios clínicos para avaliação da tolerância gastrointestinal da fibra de milho solúvel em doses de 12 a 27 g por dia revelaram que é bem tolerada num período de 10 dias a 3 semanas1 2 3 4. Num ensaio realizado em 20 voluntários saudáveis, a fibra de milho solúvel foi bem tolerada tanto no caso de uma dose única de 40 g, quanto de doses múltiplas de 65 g ao longo do dia5.
Benefícios fisiológicos
- Aumenta a absorção de cálcioe pode apoiar a mineralização óssea
- Promove a saúde digestivaatravés do seu efeito laxante
- Os efeitos fisiológicos adicionais demonstrados nos estudos com animais, in vitroe/ou clínicos, incluem:
- Efeito prebiótico: favorece o desenvolvimento de bactérias benéficas e limita o crescimento de bactérias menos desejáveis.
- Induz uma resposta glicémica baixa e apoia a glicose sanguínea pós-prandial e exerce um efeito redutor da insulina quando é usado em substituição dos açúcares.
- Ajuda no controlo do peso a longo prazo: como substitui ingredientes mais calóricos, a fibra de milho solúvel pode ajudar a reduzir a ingestão calórica.
Provas científicas dos benefícios
- Aumento da absorção de cálcio: num estudo cruzado controlado por placebo, duplamente cego e aleatório, ao longo de 3 semanas realizado em 24 adolescentes, a absorção de cálcio aumentou 12% face ao consumo de 12 g por dia de fibra de milho solúvel, quando comparado com um controlo associado a uma dieta de base que incluía 600 mg de cálcio por dia6. Além disso, os investigadores constataram que a alteração na absorção de cálcio estava positivamente correlacionada com aumentos significativos de bactérias intestinais, designadamente a phylum Bacteroides6. Segundo os investigadores, se os adolescentes deste estudo tivessem continuado a consumir fibra de milho solúvel, promovendo o aumento da absorção de cálcio, isso resultaria numa retenção de 41 mg de cálcio por dia adicionais e, se continuassem ao longo de um ano, contabilizariam 15 g de cálcio a mais, ou cerca de 1,8% do cálcio total do corpo. Também foram relatados resultados semelhantes num estudo cruzado controlado por placebo, duplamente cego e aleatório, ao longo de 4 semanas realizado em 26 adolescentes do sexo feminino com um estilo de vida sem restrições que consumiam entre 10 a 20 g por dia de fibra de milho solúvel na sua dieta habitual que continha ≤ 800 mg de cálcio por dia6. Ao passo que os resultados deste estudo realizado no ser humano apenas avaliaram o metabolismo do cálcio, um estudo de 12 semanas realizado em ratos investigou o impacto da fibra de milho solúvel no índice de massa óssea, bem como o metabolismo do cálcio7. Comparativamente a um controlo de celulose, a fibra de milho solúvel o conteúdo mineral ósseo (CMO) total, a densidade mineral óssea (DMO) total, a CMO e a DMO trabecular, a CMO cortical e a região cortical e a espessura femoral distal. A resistência óssea do fémur distal também melhorou significativamente com a ingestão de fibra de milho solúvel13. Paralelamente, um estudo recente de Jakeman et al. avaliou os dados da resposta em função da dose da ingestão crónica de fibra de milho solúvel ao longo de um período de 50 dias a nível da rotação óssea em mulheres saudáveis pós-menopáusicas através da metodologia Ca41. Os resultados revelam aumentos significativos da retenção de cálcio nos ossos no que se refere ao consumo de fibra de milho solúvel em proporção à dose tomada. As concentrações séricas de fosfatase alcalina óssea aumentaram consideravelmente com uma dose de 20 g comparativamente ao controlo (p=0.03). (Jakeman et al, não publicado)
- Laxante: 36 adultos saudáveis que consumiram 20 g por dia de fibra de milho solúvel nos cereais de pequeno-almoço e em bolos – num estudo cruzado controlado por placebo, duplamente cego e aleatório, ao longo de 10 dias – registaram um aumento do peso fecal3. O peso fecal aumentado também foi constatado noutro estudo cruzado controlado por placebo, duplamente cego e aleatório realizado em 21 homens saudáveis com excesso de peso que ingeriram 21 g de fibra de milho solúvel por dia durante 21 dias4.
- Efeito prebiótico: Após o consumo de 21 g de fibra de milho solúvel por dia durante 21 dias, registou-se um aumento de 1 ponto log da bifidobactéria em 21 homens saudáveis comparativamente a um controlo sem fibra4. Outro estudo realizado em 24 adolescentes constatou um aumento das bactérias benéficas – Bacteroides, Butyricicoccus, Oscillibacter e Dialister – correlacionado com a absorção de cálcio face a um consumo de 12 g de fibra de milho solúvel por dia, ao longo de 3 semanas8. O aumento significativo das bactérias benéficas observado nos estudos no ser humano foi suportado por estudos in vitro que usaram fezes humanas como fonte sob condições que simulam o trato gastrointestinal do ser humano9 10.
- Níveis favoráveis de glicose e no sangue e de resposta da insulina: 2 estudos clínicos11 12e um estudo com animais13 avaliaram os efeitos glicémicos da fibra de milho solúvel. A resposta glicémica pós-prandial à fibra de milho solúvel foi comparada com a resposta glicémica à glicose em 12 adultos saudáveis num estudo cruzado controlado aleatório9. A fibra de milho solúvel apresentou uma resposta à insulina e ao teste incremental de glicose muito mais baixa, comparativamente ao controlo de glicose. Outro estudo10 observou um efeito redutor significativo a nível da glicose sanguínea pós-prandial e da insulina com uma dose de 55 g de fibra de milho solúvel num estudo cruzado cego aleatório realizado em 18 adultos com excesso de peso comparativamente a um controlo calórico completo. Por fim, numa série de formulações sobre a fibra de milho solúvel investigadas num estudo com animais constataram-se valores significativamente inferiores a nível das respostas à glicose sanguínea pós-prandial e à insulina, comparativamente a um controlo da maltodextrina11.
Em que tipos de alimentos encontramos normalmente esta fibra?
A fibra de milho solúvel é usada num amplo leque de preparações alimentícias, bebidas e condimentos, incluindo cereais, produtos cozidos, doces, produtos lácteos, alimentos congelados, sopas, molhos para salada, bebidas à base de frutas, bebidas carbonatadas, bebidas usadas como substitutos de refeições e água aromatizada.
Consumo Diário Recomendado
“Entre os nutrientes consumidos em quantidades insuficientes, o cálcio, o potássio, a fibra alimentar e a vitamina D são considerados uma questão preocupante a nível da saúde pública, dado que o seu consumo em níveis baixos está associado a preocupações no domínio da saúde.” – Dietary Guidelines for American 2015-2020 (8a edição).
Em 2002, o Instituto de Medicina dos EUA (atualmente conhecido por National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine) recomendava um consumo diário de fibra de 38 gramas para os homens com idade até 50 anos e de 25 gramas para as mulheres com idade até 50 anos. O consumo diário recomendado para os homens e mulheres com idade superior a 50 anos é de 30 e 21 gramas, respetivamente, devido à diminuição do consumo de alimentos. Esta recomendação de consumo de fibras diário é de aproximadamente 14 g/1000 kcal. A maioria dos norte-americanos apenas consome metade do valor recomendado (13,5 e 18 g, respetivamente). O mesmo acontece com indivíduos de outros países que consomem fibras em quantidades insuficientes, tal como é possível constatar nos dados do mapa interativo de 2010 da Global Dietary Database (base de dados mundial sobre alimentação). Esta carência na nossa alimentação é denominada por deficiência de fibras. Esta deficiência de fibras não é tão significativa em determinados países, como o México. Segundo um relatório de 2012, o consumo de fibras no México é de 27 gramas por dia, nos homens, e de 22 gramas por dia, nas mulheres.
Atendendo aos hábitos de consumo atuais, reduzir a deficiência de fibras através do consumo de alimentos enriquecidos com fibras também implicaria uma ingestão calórica consideravelmente superior. Para alcançar o consumo de fibras recomendado sem recorrer a alimentos enriquecidos com fibras, a maioria das pessoas teria de aumentar a sua ingestão calórica em mais de 500 calorias por dia. Mas para satisfazer as necessidades de consumo de fibras não é forçosamente necessário adicionar calorias em caso de consumo de alimentos enriquecidos com fibras. A título de exemplo, determinados estudos demonstraram que o enriquecimento de alimentos à base de cereais com fibra (entre 2,5 e 5 g) resultou num consumo de fibras entre 24,7 a 39,1 g por dia, sem aumento calórico. (Nicklas et al, 2011; Jones, 2014)
Os alimentos enriquecidos com fibras ajudaram a reduzir a deficiência de fibras, proporcionando simultaneamente um sabor excelente e benefícios metabólicos suplementares. A dieta global deve incluir uma mistura de vários tipos de fibras.
Consumir uma variedade de fibras
Embora a maioria das fibras suscite mais do que um efeito benéfico para a saúde, um único tipo de fibra não é capaz de produzir todos os efeitos benéficos para a saúde. Certos efeitos estão claramente identificados para um elevado número de tipos de fibra diferentes, ao passo que outros são muito específicos a determinadas fibras. Para potenciar os benefícios para a saúde das fibras, é essencial consumir uma variedade de fibras.
As fibras encontram-se em vários tipos de alimentos. Na informação nutricional, na linha da fibra alimentar, pode encontrar rapidamente a quantidade de fibra por dose.
Além disso, a percentagem de fibra dos alimentos, como as frutas e os legumes crus que não possuem rotulagem nutricional, estão disponíveis aqui.
Tolerância gastrointestinal
O aumento súbito do consumo de fibra alimentar – sobretudo no caso de indivíduos com uma dieta pobre em fibras – pode provocar determinados efeitos gastrointestinais, como o aumento do número de defecações semanais, a produção de fezes mais moles (sem ser diarreia) ou um aumento da flatulência. Estes efeitos naturais são efeitos reflexos do aumento de consumo, ou resultam da fermentação da fibra no trato gastrointestinal. É possível minimizar estes eventuais efeitos aumentando o consumo de fibra de forma mais gradual, para que o trato gastrointestinal possa adaptar-se. Por conseguinte, poderá ser útil reduzir o consumo de fibra enquanto estas sensações persistirem e ir aumentando gradualmente o consumo de fibras até chegar ao consumo recomendado de 14 g/1000 kcal.
Referências
1 Sanders L, Kendall C, Maki K, et al. A novel maize-based dietary fiber is well tolerated in humans. FASEB J. 2008; 22:lb761.
2 Stewart ML, Nikhanj SD, Timm DA, et al. Evaluation of the effects of four fibers on laxation, gastrointestinal tolerance and serum markers in health humans. Ann Nutr Metabol. 2010; 56:91-98.
3 Timm DA, Thomas W, Boileau TW, et al. Polydextrose and Soluble Corn Fiber increase five-day fecal wet weight in healthy men and women. J Nutr. 2013;143:473-478.
4 Vester Boler BM, Serao MC, Bauer LL, et al. Digestive physiological outcomes related to polydextrose and soluble maize fiber consumption by healthy adult men. Br J Nutr. 2011; 106:1864-71.
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6 Macdonald-Clarke C, Martin B, Whisner C, et al. 2013. Soluble Corn Fiber Increases Calcium Absorption in Free Living Adolescent Girls. J Bone Miner Res 28 (Suppl 1).
7 Weaver CM, Martin BR, Story JA, et al. Novel fibers increase bone calcium content and strength beyond efficiency of large intestine fermentation. J Agri Food Chem. 2010; 58:8952-8957.
8 Whisner CM, Martin BR, Nakatsu CH, McCabe GP, McCabe LD, Peacock M, Weaver CM. Soluble maize fiber affects short-term calcium absorption in adolescent boys and girls: a randomised controlled trial using dual stable isotopic tracers. Br J Nutr. 2014; 112:446-456.
9 Maathuis A, Hoffman A, Evans A, et al. The effect of undigested fraction of maize products on the activity and composition of the microbiota determined in a dynamic in vitro model of the human proximal large intestine. J Am Coll Nutr. 2009; 28:657-66.
10 Titoria P, Gibson P, Komitopoulou E, et al. Understanding Prebiotics. Confidential Collaborative Project In House Final Report No. 120368. Leatherhead Food International. March 2007.
11 Kendall C, Esfahani A, Hoffman A, et al. Effect of novel maize-based dietary fibers on postprandial glycemia and insulinemia. J Am Coll Nutr. 2008; 27:711-8.
12 Konings E, Schoffelen PF, Stegen J, et al. Effect of polydextrose and soluble maize fiber on energy metabolism, metabolic profile and appetite control in overweight men and women. Br J Nutr. 2014 Jan 14;111(1):111-21.
13 Knapp B. Select Novel Carbohydrates Affect Glycemic and Insulinemic Response, Energy Value, and Indices of Gut Health as Measured Using Canine, Avian, Rodent, and in vitro Model Systems. Dissertation. Submitted in partial fulfillment of the requirements for the degree of Doctor of Philosophy in Animal Sciences. University of Illinois, Urbana-Champaign, 2010.