Existe atualmente uma variedade de definições de fibras em todo o mundo. À medida que a rotulagem nutricional se torna uniforme no mundo, é necessária uma única definição de fibra. Enquanto todos os governos ainda não tiverem atualizado suas definições quanto às fibras alimentares e aos regulamentos sobre rotulagem para refletir o atual estado do conhecimento científico, as definições terão um tema em comum – fibra alimentar é um carboidrato complexo que não é digerido nem absorvido no intestino delgado. As definições emitidas por várias entidades científicas especializadas e por autoridades governamentais nos últimos anos também podem ser caracterizadas por seu reconhecimento de que as fibras alimentares devem apresentar um ou mais efeitos fisiológicos associados à melhora da saúde ou à diminuição do risco de doença crônica. A aplicação prática dessas definições é amparada pelo reconhecimento de que têm sido desenvolvidas técnicas analíticas adequadas durante os anos, permitindo a quantificação de todas as formas de fibras alimentares, tanto solúveis como insolúveis.
A fonte de fibras mais comumente reconhecida na dieta em adultos provém de carboidratos não digeríveis e de lignina, que ocorre naturalmente como parte do alimento consumido, como grãos integrais (aveia, trigo, cevada, arroz etc.), favas, frutas e legumes. As fibras também estão presentes no leite materno na forma de galacto-oligossacarídeos.
Algumas fibras também podem ser extraídas de sua fonte alimentar e usadas como ingrediente alimentar independente para suplementar o conteúdo de fibras dos alimentos. Fibras insolúveis comuns são provenientes da casca ou camada de farelo de grãos comestíveis e englobam farelo de trigo, fibra de aveia, fibra de cevada e farelo de arroz. Existem diversos outros ingredientes contendo fibras provenientes de vegetais diferentes dos grãos, como farelo de milho e fibra de casca de soja, além de fibras de sementes de algodão, bambu, beterraba, ervilha, grãos de cacau e outros. A maioria dessas fibras insolúveis fornece celulose, que constitui as paredes das células das plantas e fornece volume. Exemplos de fibras viscosas incluem arabinogalactanos extraídos da polpa do lariço, betaglucano da cevada e da casca de semente de psílio. Exemplos de fibras fermentáveis incluem a inulina extraída de fontes como raiz de chicória e outros oligossacarídeos de plantas. A porção de amido dos grãos também pode contribuir com fibra alimentar fermentável, pois alguns amidos resistem à digestão no intestino delgado e chegam ao intestino grosso – esse tipo de amido é denominado “amido resistente”.
Algumas fibras extraídas possuem aplicabilidade limitada em vários alimentos como resultado de suas propriedades físicas e químicas. Por exemplo, algumas fontes de fibras insolúveis absorvem o equivalente em água a muitas vezes seu peso, efetivando a formação de glúten e a estrutura do pão e de outros produtos de panificação. Enquanto as fibras solúveis possuem benefícios fisiológicos, sua extrema viscosidade em baixos níveis limita a quantidade utilizável em muitos alimentos e bebidas. Essas fibras intrínsecas podem ser modificadas por processos físicos, enzimáticos e químicos para alterar o tamanho da partícula, a solubilidade, o comprimento do polímero etc., para tornar a fibra mais adequada para aplicações específicas. Por exemplo, o ß-glucano de aveia pode ser enzimaticamente ou quimicamente hidrolisado para encurtar comprimentos de cadeias, reduzindo a viscosidade e permitindo que níveis mais elevados sejam utilizados em suas bebidas.
A fim de expandir as opções de fibras para mais alimentos e fornecer ao consumidor mais escolhas que possam levar a um maior consumo de fibras, têm sido desenvolvidos ingredientes de fibra inovadores a partir de matérias primas. Em alguns casos, eles têm sido modificados para se tornar mais resistentes à digestão.
O amido, um polissacarídeo encontrado no milho, batata, trigo e outras fontes pode ser quimicamente, fisicamente e/ou enzimaticamente tratado para formar uma ampla variedade de fibras com diferentes propriedades para os alimentos. Estas incluem alguns tipos de amidos resistentes, dextrina, maltodextrina e xarope de milho resistentes.
A inulina pode ser hidrolisada em polímeros de cadeia mais curta conhecidos como fruto-oligossacarídeos. Os fruto-oligossacarídeos também podem ser provenientes da polimerização enzimática direta de frutose. Outras fibras que podem ser produzidas pela polimerização enzimática direta de açúcares mono e dissacarídeos são os isomalto-oligossacarídeos. Outro exemplo é a conversão enzimática de lactose, resultando em galacto-oligossacarídeos.
As fibras também podem ser preparadas pela polimerização de carboidratos alimentares em uma forma que torne o polímero resistente à digestão, como a polidextrose preparada a partir de glicose e sorbitol.
A média atual de ingestão de fibras totais por adultos norteamericanos é de cerca de 15 gramas por dia (NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey (Pesquisa nacional sobre nutrição e da saúde) – 2005-06). O Conselho de alimentos e nutrição do IOM (Institute of Medicine – Instituto de medicina) em colaboração com a Health Canada (Saúde do Canadá) recomendou que as fibras sejam consumidas a uma razão de 14 g de fibras totais /1000 kcal por dia para reduzir o risco de doenças crônicas. As recomendações para homens adultos são de 30 g – 38 g de fibras totais/dia e 21 g – 25 g de fibras totais/dia para mulheres adultas (IOM, 2005). Assim sendo, as ingestões atuais de fibras totais estão muito abaixo dos níveis recomendados. Existem atualmente 50 tipos diferentes de fibras contendo ingredientes à escolha. A disponibilidade dessas fontes adicionais de fibras possibilita o aumento da quantidade de fibras nos alimentos que já contêm fibras, como produtos de panificação contendo grãos de trigo e cereais, assim como o fortalecimento de alimentos que tradicionalmente não contêm nenhum teor de fibras, como sucos de frutas e iogurte.